terça-feira, 23 de julho de 2013

Desgraça humana


Vi seu rosto pela última vez naquela tarde de sol. Eu ainda não consigo entender por que ele me deixou ali sozinho, totalmente perdido. Eu tentei segui-lo, mas o carro corria muito mais que minhas pernas suportavam. Tentei chamar por ele, mas foi em vão. Comecei a ficar desesperado, por que será que ele me abandonou assim? Será que foi porque roí aquele móvel? Será que era porque eu latia para os estranhos que vinham nos visitar? Será que foi porque fiz minhas necessidades fora do local apropriado?


Eu não sabia como voltar pra casa. Esse lugar era totalmente desconhecido e afastado. Continuei a chamá-lo, a procurá-lo e ainda assim não o encontrava.
Passaram-se dias, eu já não estava tão forte quanto antes: minhas pernas tremiam, meu olhar se desfocava e minha saudade era grande. Foi quando avistei o carro dele, parado na sinaleira. Eu puxei todo o fôlego que ainda me restava, enchi meus pulmões com o máximo de ar que podia para chamá-lo e atravessei a avenida em direção a ele.
Eu lembro de uma pequena garotinha chorando muito, e perguntava pro senhor que me segurava no colo se eu iria ficar bem. Ela se ajoelhou, olhou em minha direção ainda com as lágrimas escorrendo e dizia, acariciando meu pelo: "Você vai ficar bem, cãozinho!"
Naquele momento, meu sofrimento dissipou. Bati o rabo com todo esforço que me restava e dei uma última lambida de agradecimento na mãozinha daquela menininha.
Meus ferimentos graves me deixaram sem alternativa e meus olhos se fecharam.
Espero que ele esteja feliz. Espero que ele encontre o amor. 
Eu sempre estarei esperando por ele e nunca vou entender por que ele me deixou sofrendo.

Natália Giovanaz.

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