quinta-feira, 7 de julho de 2011

Escola Verde Brasileira serve de exemplo para o Mais Eco Educação



O colégio Estadual Erich Walter Heine, situado no Rio de Janeiro, foi o primeiro da América Latina a obter o selo LEED¹ Schools, certificação concedida pelo Green Building Council (GBC) para escolas com projeto sustentável. No mundo todo, apenas 120 instituições de ensino obtiveram este selo, e dessas, 118 ficam nos EUA, as outras duas na Noruega e em Bali. Também é o primeiro de ensino médio profissionalizante da região. Os alunos, de 14 a 17 anos, recebem aulas técnicas de administração, algo importante para o bairro, que possui um dos IDHs mais baixos da capital: 0,742. Quanto mais perto de 1, mais desenvolvida é a região – na Gávea, bairro nobre da Zona Sul carioca, o índice é 0,970.




O prédio foi construído no formato de cata-vento: um quadrado ao meio e, em sua volta, quatro blocos separados correspondentes às pás. Essa escolha foi determinada pela necessidade de projetar uma escola modulável e de aumentar o conforto térmico. Como há a passagem entre os blocos, o ar bate nas paredes internas e circula pelo pátio central, para finalmente subir por sua claraboia transparente. A temperatura diminui em até 6°C, algo importante para uma escola instalada em um local que chega aos 40°C no verão.

Os dois pavimentos são divididos da seguinte forma: no primeiro foram colocados equipamentos que pudessem ser utilizados pela comunidade: auditório, refeitório, biblioteca multimídia e sala de arte, além da piscina e das quadras esportivas; e no segundo estão as salas de aula.

Sustentabilidade da localização

- Reutilização de elementos já existentes no terreno, antes uma praça: restaurados e adaptados a pavimentação em pedra portuguesa, quadras poliesportivas, chuveiros públicos, mesas e bancos de jardim e postes de iluminação; 

- Mantidas as 72 árvores do local e reaproveitado na obra o material produzido com a escavação das fundações.


Otimização do uso de materiais

- Todos os materiais utilizados, tais como cimento, solventes, vernizes, tintas, colas, madeiramento das portas e pavimentos, eram certificados pelo GBC ou provenientes de reciclagem; 

- Os resíduos gerados, como sacos de cimento, madeira e entulho, foram todos separados de maneira a haver monitoramento e racionalização do descarte.


Eficiência no uso da água

- Instalação de um sistema de reaproveitamento das águas pluviais para os sanitários, irrigação de jardins e lavagem dos pátios; Redução de água potável em 50%;

- Nos banheiros, torneiras de baixo consumo com válvulas temporizadas, sanitários com descarga de dupla utilização e chuveiros com vazão reduzida;

- Solo todo revestido de grama ou ecopiso, produzido com materiais recicláveis, como o PET, e totalmente permeável;

- Mantidas as áreas verdes originalmente do terreno e novos jardins foram implantados, o que auxilia a drenagem;

- Implantação do ecotelhado, (módulos produzidos a partir de resíduos da indústria têxtil e de borracha reciclada que recebem uma cobertura vegetal) que reduz a velocidade de escoamento da água da chuva.




Eficiência energética e cuidados com as emissões na atmosfera

- Todas as luminárias dos ambientes internos utilizam lâmpadas LED, que reduzem o consumo de energia em até 80%, são recicláveis, não contêm metais pesados nem contaminantes, e podem durar até seis anos;

- Equipamentos de ar-condicionado, “mal-vistos” pelo LEED for Schools, mas necessários em uma cidade quente como o Rio, consomem 40% menos de energia; São dotados da tecnologia Inverter, que atingem conforto térmico utilizando a energia de maneira mais eficiente, ao evitar picos de eletricidade;

- No teto, sensores de presença que desligam automaticamente as lâmpadas e os aparelhos de ar-condicionado dos ambientes quando estão vazios;

- Economia total de energia nos vestiários, onde um conjunto de painéis solares conjugados a um boiler de armazenamento aquece a água do banho; 

- Ecotelhado também neutraliza as emissões de carbono na atmosfera;

- Instalação de uma clarabóia translúcida no pátio interno do colégio, para o qual convergem os corredores entre os prédios, o que amplifica a luminosidade natural reduzindo a necessidade de iluminação artificial durante o dia.




Qualidade ambiental no interior da edificação

- Cobertura vegetal do terreno foi mantida, contribuindo para a redução da temperatura;

- As tintas usadas nas paredes, ecológicas e não tóxicas, são de cores claras e o piso é de cimento polido, melhorando o conforto térmico do ambiente;

- Todas as salas de aula foram submetidas a controle de ruídos: forro mineral, ecotelhado e paredes externas mais grossas oferecem uma barreira maior ao som proveniente de fora da escola, que resulta no nível de intensidade sonora dentro das salas de 43 decibéis (o padrão de conforto acústico, segundo o GBC, é de 45 decibéis);

- Vidros das janelas, dotados de uma película protetora, permite somente a entrada da luz necessária; reflete apenas os raios que esquentam o ambiente; e possui proteção ao som, já que a lâmina tem a capacidade de absorvê-lo.



Acessibilidade

- Nenhum degrau na escola: as salas de aula e outros ambientes estão todos em nível zero e a comunicação entre os dois pavimentos do prédio é feita por meio de rampas, dotadas de corrimãos; 

- Piso com indicação podotátil (pisos empregados em espaços públicos, para que deficientes visuais possam se locomover com segurança) e ambientes identificados por meio de sinalização visual e em braile;

- Vãos maiores e peitoril rebaixado das janelas das salas de aula, aumentando as circulações de ar e a iluminação, e permite que uma pessoa sentada em uma cadeira de rodas ou uma pessoa com baixa estatura tenha mais visibilidade;

- Piscina com corrimãos e rampa de transpasse que possibilitam autonomia para pessoas com mobilidade reduzida entrarem e saírem da água;




O colégio, inaugurado há apenas três meses, já conta com 200 alunos matriculados e a expectativa é de que receba mais 300 até o fim deste ano. Cada estudante conta com um computador e a escola possui lousas digitais com acesso à internet. Todos os funcionários participaram do curso de sensibilização ecológica, promovido pelo Programa Thyssenkrupp CSA de Comunicação e Educação Ambiental, e, portanto, devem apresentar qualificação para adoção e conscientização dos jovens sobre práticas sustentáveis. 

Resultados satisfatórios já são apresentados: os levam para casa o que aprendem em sala. “Meu pai montou um sistema de captação da água da chuva lá em casa”, conta o estudante Hebert Elias Sanches, de 17 anos de idade. “Usamos para lavar a roupa, limpar o quintal e sanitários. A conta d’água está mais barata”, afirma. Ademais, nos fins de semana, a escola abrirá suas portas à comunidade do bairro da Zona Oeste com a realização de atividades educativas e culturais.




Os professores também aprovam. Agnaldo Pereira dos Santos, professor de Química, disse que esta é a primeira vez que vê seu trabalho ser valorizado em seus 16 anos de magistério. “É muito gratificante, porque a gente (professores) já está há um bom tempo no estado e nunca havia visto uma resposta dessa, com laboratório dessa qualidade e alunos dedicados”.

O colégio Erich Walter Heine é resultado de uma parceria entre a Secretaria Estadual de Educação (Seeduc) do Rio de Janeiro e a empresa ThyssenKrup CSA, e foi projetado pelos arquitetos Rafael Tavares de Albuquerque e Maria José de Mello Gerolimich, donos da Arktos − Arquitetura Sustentável. A obra teve um custo de cerca de R$11 milhões, e acredita-se que em três anos o investimento seja recuperado em eficiência energética. 



Esta escola serve como inspiração a nós do Mais Eco Educação e nos incentiva a cada vez mais fazer algo para melhorar as práticas sustentáveis, principalmente nos ambientes escolares. Vemos crescer o que é semeado e isso nos motiva a querer plantar várias sementinhas dessas. Vemos o trabalho dos professores ser reconhecido e isso nos faz querer fazer parte disso. Faz-nos querer ser educadores. Dá-nos esperança e vemos que não estamos sós. Faz-nos ver um futuro melhor. 


Mayumi Yoshida.



¹ LEED é um sistema de certificação, feito por meio de avaliação de alguns critérios do edifício: sustentabilidade da localização; otimização do uso de materiais e recursos; eficiência no uso da água; eficiência energética e cuidados com as emissões na atmosfera; qualidade ambiental no interior da edificação.

Referências

COLBERT, Marcelle; Primeiro colégio ecologicamente correto da América Latina. Disponível em: . Acesso em: 2 jul. 2011.

GOULARTE, Antonia. Primeira escola verde da América Latina já dá frutos. Disponível em: . Acesso em: 2 jul. 2011.

GOMES, Luciani. Ecoescola- Instituto de ensino do Rio de Janeiro é o primeiro da América Latina a conquistar rigorosa certificação verde internacional. Disponível em: . Acesso em: 2 jul. 2011.

DIÁRIO, O. Rio de Janeiro inaugura primeira escola ecológica do país. Disponível em: . Acesso em: 2 jul. 2011.

LIMA, Eduardo Campos. Escola pública sustentável. Disponível em: . Acesso em: 2 jul. 2011.

ARENAS, Eco. O processo de design e construção sustentável. Disponível em: . Acesso em: 2 jul. 2011.

LTDA, Arco Sinalização Ambiental. Piso Tátil ou Podotátil. Disponível em: . Acesso em: 2 jul. 2011.

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