sábado, 27 de outubro de 2012

Somos todos Guarani-Kaiowá: LUTE!

Lembro-me que quando fomos convidad@s para participar da Semana de Cinema Ambiental do IFG em março deste ano, pediram que assistíssemos uma lista de vídeos que poderia ser apresentado para o público. Um deles era o “À Sombra de Um Delírio Verde”, que acabou não sendo apresentado (pelo menos não no dia que participamos). Este documentário se faz muito pertinente hoje, neste momento, pois ele mostra/explica a realidade da região sul do Mato Grosso do Sul, fronteira com Paraguai, onde a etnia indígena Guarani-Kaiowá, que possui a maior população indígena no Brasil, luta silenciosamente por seu território, tentando conter o avanço de poderosos inimigos. E como vocês já devem saber, uma carta assinada pelos líderes indígenas da aldeia Guarani-Kaiowá e remetida ao Conselho Indigenista Missionário (CIMI), anuncia a morte coletiva (o que é diferente de suicídio coletivo) de 170 homens, mulheres e crianças se a Justiça Federal mandar retirar o grupo da Fazenda Cambará, onde estão acampados provisoriamente às margens do rio Hovy, no município de Naviraí. Os índios pedem há vários anos a demarcação das suas terras tradicionais, hoje ocupadas por fazendeiros e guardadas por pistoleiros. 



Se você quer entender um pouco mais sobre o porquê do anúncio de morte coletiva do povo Guarani-Kaiowá, assista ao vídeo abaixo: 




“Expulsos pelo contínuo processo de colonização, mais de 40 mil Guarani-Kaiowá vivem hoje em menos de 1% de seu território original. Sobre suas terras encontram-se milhares de hectares de cana-de-açúcar plantados por multinacionais que, em acordo com governantes, apresentam o etanol para o mundo como o combustível ‘limpo’ e ecologicamente correto. Sem terra e sem floresta, os Guarani-Kaiowá convivem há anos com uma epidemia de desnutrição que atinge suas crianças. Sem alternativas de subsistência, adultos e adolescentes são explorados nos canaviais em exaustivas jornadas de trabalho. Na linha de produção do combustível limpo são constantes as autuações feitas pelo Ministério Público do Trabalho que encontram nas usinas trabalho infantil e escravo. Em meio ao delírio da febre do ouro verde (como é chamada a cana-de-açúcar), as lideranças indígenas que enfrentam o poder que se impõe muitas vezes encontram como destino a morte encomendada por fazendeiros.” 


Além disso, o Portal ViSta-se alertou para uma outra causa desse conflito: a pecuária. 

O Brasil, país dominado pela pecuária, explora seus cidadãos, seus recursos naturais e massacra seus animais para manter uma economia torpe que só traz riquezas e prosperidades a alguns, justamente aqueles que destroem. O consumidor, que é quem tem nas mãos o poder de escolher que produtos e que empresas quer ver no supermercado, tem uma parcela de culpa nisso tudo. 

Baseado nisso, o Portal deu as seguintes dicas de como ajudar o povo Guarani-Kaiowá: 

Como ajudar: Não consumindo produtos feitos com sofrimento, tornando-se vegana(o). Saiba mais. Existe uma petição online que deve ser entregue à Justiça Federal, clique aqui. (Não conseguimos levantar dados sobre a autora da petição e se realmente ela será entregue a quem se propõe.) 

Ademais, várias cidades estão se organizando para realizarem atos públicos, pacíficos e apartidários em apoio ao povo Guarani-Kaiowá. Clique aqui e veja a cidade mais próxima de você e apoie esta luta. Afinal, somos todos Guarani-Kaiowá! 



"Mas o Brasil vai fica rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão."

Legião Urbana 



Abaixo a carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil:

Nós (50 homens, 50 mulheres e 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, viemos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante da ordem de despacho expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, do dia 29 de setembro de 2012. Recebemos a informação de que nossa comunidade logo será atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal, de Navirai-MS.
Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver à margem do rio Hovy e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay. Entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio e extermínio histórico ao povo indígena, nativo e autóctone do Mato Grosso do Sul, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy onde já ocorreram quatro mortes, sendo duas por meio de suicídio e duas em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas.
Moramos na margem do rio Hovy há mais de um ano e estamos sem nenhuma assistência, isolados, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Passamos tudo isso para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs, avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados.
Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui.
Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação e extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais. Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal. Decretem a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e enterrem-nos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem mortos.
Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo em ritmo acelerado. Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos coletivamente aqui. Não temos outra opção esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.

Atenciosamente, Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay



Ato no Ministério da Justiça (Brasília):


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